Influências indígenas: Na Serrana-BJI rio Itabapoana, na Planície-BJI rio Managé, Muribeca, Cabapuana, e Camapuâ

Nomenclatura indígena que batizou o rio definitivamente como Itabapoana, se relaciona com a Cachoeira da Fumaça de Calheiros

A série de artigos "Memórias do Itabapoana", do Professor Arthur Sofiatti, foi a fonte primaz deste artigo, clique aqui e confira!

Uma discussão recente no meio ambientalista bom-jesuense desperta a curiosidade ainda pouco aguçada, em um debate que certamente provoca a necessidade de se pesquisar a fundo a história do rio Itabapoana, no tocante de sua ocupação a partir do século XVI e de suas nomenclaturas...

...tendo ao longo da história registros que apontam que nosso rio já teve outros quatro nomes indígenas antes de se denominar oficialmente como “Itabapoana” em todo percurso da bacia hidrográfica, com quase todos eles sendo verificados em expedições que partiam do oceano em direção contrária do curso do rio...

....tendo nos registros dos anos de 1545, 1785 e 1817 identificados os nomes de “Managé”, “Muribeca”, “Cabapuana”, e “Camapoã”, todas as expedições adentrando o curso do rio pela foz oceânica até nas proximidades de Santo Eduardo, compreendendo a localidade como Vila da Rainha, com território se estendendo até o litoral... 

...e em todos os relatos dessas expedições, a informações sobre a nascente do rio são genéricas ao indicar a "Serra do Pico", local onde também nasceria o rio Muriaé, sem apresentar nenhuma citação relacionada a Serra do Caparaó.

Importante salientar que a nomenclatura indígena adotada no rio não se abrangia em todo percurso, e sim nos limites de exploração da tribo que batizara o rio, portanto, é plenamente factível que o rio tenha tido variados nomes em diferentes trechos e na mesma época durante esses períodos acima datados...

...sendo que, somente a partir de 1865 que o rio passou a ser denominado oficialmente de “Rio Preto” ou “Rio Itabapoana”, conforme registrado na primeira cartografia do império sobre o rio, com a expedição partindo da nascente do rio em direção a foz no oceano...

...tanto que eles apontam como os primeiros afluentes ou “tributários” do Itabapoana os rios do “Ouro” e da “Onça”, ambos muito próximos entre si, com o primeiro localizado no município mineiro de Faria Lemos e o segundo em Varre-Sai/RJ, o que sugere que a expedição cartográfica começou da nascente do rio em direção a foz.


Diferente do que aponta determinadas abordagens sobre este tema, a nomenclatura “Itabapoana” não foi uma variável ou adaptação linguística dos povos rurais de Bom Jesus ao termo indígena “Cabapoana”, sustentando a tese pensando que este nome era adotado em todo percurso do rio, e definitivamente não era...

...conforme demonstrado acima, os nomes do rio variavam de acordo com a tribo que vivia em suas proximidades, até porque os povos indígenas não realizavam trabalho de pesquisas para levantarem informações sobre a bacia hidrográfica integralmente...

...as denominações adotadas se davam de acordo com o contexto local no qual eles viviam, como o termo “Camapoã”, que na linguagem indígena “Macro-gê” significa “colina redonda como seios”, em uma clara alusão a “Pedra do Garrafão” de Santo Eduardo, mas em hipótese alguma esse nome era adotado na região de Calheiros, bem como o nome “Rio Preto” jamais foi utilizado na região da planície até a foz oceânica...

...também podendo avaliar que o sufixo “poana”, pode ser uma adaptação da palavra “Itapoã”, que em Tupi-Guarani significa “ponta da pedra”, instrumento utilizado como arma de caça de tartarugas ou peixes de grande porte, daí podemos associar o ItabaPOANA a Cachoeira da Fumaça por esta já ter sido denominada como “Cachoeira da Ponta da Pedra”, conforme consta nas “Memórias do Itabapoana”, em oito artigos escritos pelo renomado historiador ambiental Arthur Soffiati.

Voltando a primeira expedição cartográfica do império em 1865, salienta-se que as abordagens apontam dois nomes do rio, primeiro o Rio Preto identificando como nascedouro na Serra do Caparaó e que faz a divisa dos estados de MG e ES, e a seguir se utiliza o termo “Itabapoana”...

...com o estudo ainda apontando os tributários rios do Ouro e da Onça, e as cachoeiras  da “Ponta da Pedra” e do “Inferno”, a primeira depois denominada como a Cachoeira Santo Antônio, que hoje é a Cachoeira da Fumaça de Calheiros, por ela ser a primeira a montante da Cachoeira do Inferno da Barra do Pirapetinga...

...nos levando a evidente conclusão que o termo “Itabapoana” é originariamente indígena e não uma adaptação de povos rurais, e que este foi adotado inicialmente em nossa região serrana, mais precisamente em Calheiros...

...tanto que a nossa mais antiga povoação começou com a denominação de “Santo Antônio do RIO PRETO”, e no final do século XIX chegou a ser denominada como “Santa Antônio do ITABAPOANA”, para depois se chamar Santo Antônio de Calheiros, o que sugere que o segundo nome pode ser dado a partir do momento em que oficialmente o rio passou a denominar como Itabapoana em todo percurso da bacia hidrográfica.



Oficialmente a prefeitura de Bom Jesus do Itabapoana aponta a tradução do termo Itabapoana como “Pedra empinada da aldeia do barulho das águas”, mas em pesquisa realizada encontrei outros significados de Itabapoana conforme elencados abaixo:


“Pedra empinada da aldeia do barulho das águas” (https://www.bomjesus.rj.gov.br/site/noticia-1770)

Pedra empinada, conectada com o barulho das  águas” (http://www.mimosoinfoco.com.br/historia-de-mimoso/itabapoana-river-por-gilberto-braga-machado/)

Aldeia alta, elevada ou redonda". (https://www.dicionarioinformal.com.br/itabapoana/)

O topônimo "Itabapoana" deriva do termo tupi y-kûabapûana, que significa "correnteza de água. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Itabapoana)

Camapuan ou Cabapoana, que grosso modo significa "colina arredondada (como seios)" (http://gerson-franca.blogspot.com/2010/03/manage-antigo-itabapoana-moderno-o-nome.html)

Itapuã (em grafia arcaica Itapoan) é uma palavra de origem tupi-guarani que designa um tipo de arpão curto, com ponta metálica (originalmente de pedra – ita, nessa língua), que era utilizado para a pescaria de tartaruga e peixes grandes. (https://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/itapua/).



Um detalhe histórico que jamais se observou na tentativa de se traduzir o termo “Itabapoana”, está no aspecto étnico do tronco linguístico indígena que se busca o significado do termo, fazendo com que temos variadas interpretações e não uma única tradução literal...

...pois estamos sempre tentando buscar o significado nas traduções existentes da linguagem “Tupi-Guarani”, sendo que os povos indígenas que ocupavam o rio originariamente, são os Goytacazes na planície e litoral, e os Puris em nossa região serrana subindo em direção aos estados de MG e ES...

...e essas, são duas etnias que não falavam o Tupi-Guarani, e sim o “Macro-gê”, que tem significativas diferenças em muitas traduções e pronunciamentos fonéticos e até gramaticais...

...e o grande problema é que o tronco linguístico do Macro-gê é muito pouco traduzido, quase não temos documentos ou dicionários amplos como temos na linguagem Tupi-guarani, tornando praticamente impossível identificarmos de maneira indiscutível a tradução do termo Itabapoana.

Mesmo diante de tantas dúvidas acima levantadas obre a origem do nome Itabapoana, dentro do contexto das denominações indígenas conhecidas do rio, podemos mensurar que todas elas eram da mesma época, divididas em regiões de acordo com a exploração das tribos...

...como Managé e Muribeka, segundo tradução da linguagem Macro-gê utilizada pelos Goytacazes, significam “Água limpa para beber” a primeira, e “Água limpa para pescar” a segunda denominação, e ambas se localizavam no trecho do rio próximo da foz oceânica...

...podendo aqui conjecturar que o termo “água limpa” poderia se dever ao fato da vegetação nativa das margens do rio nesta região ser composta por manguezais, bem como os termos “Camapoan” e “Cabapoana” são provenientes da tribo localizada nas proximidades de Santo Eduardo e tendo a Pedra do Garrafão como referência e com um cenário de Mata Atlântica no entorno do rio... 

...o que chamo a atenção dos leitores, é para o fato de que em nenhuma das nomenclaturas indígenas adotadas na planície se utiliza o sufixo "ITA", de pedra, justamente por ser uma trecho do rio que não tem cachoeiras com quedas expressivas, não tendo nenhuma grande pedra no meio do rio enfrentando as águas do Itabapoana.



O que não se discute, é que a denominação ITABAPOANA foi originada por alguma tribo “Puri” localizada onde hoje está Santo Antônio de Calheiros, com esta tese reforçada pela existência de fornos indígenas nas margens do rio...

...e pelas características da formação rochosa da Cachoeira da Fumaça, verifica-se que é a única que tem uma semelhança com “pedra empinada” ou “ponta da pedra” conforme ela já fora denominada, pois acima deste trecho a denominação conhecida sempre foi referenciada como Rio Preto...

...com este nome sendo utilizado pelos colonizadores brancos até em Calheiros, e com os indígenas que viveram anteriormente adotando o nome de Itabapoana, e muito provável que a tradução mais próxima no tronco linguístico do Macro-gê, seria “A aldeia da ponta da pedra do barulho das águas”...

...um pouco diferente da denominação adotada como oficial pela PMBJI, que é a “Pedra empinada da aldeia do barulho das águas”, que se foi traduzida através da língua Macro-gê estaria aparentemente correta, mas no Tupi-guarani estaria errada, pois neste tronco linguístico o termo “Pedra empinada” se traduz como “Itabira”.

Comentários

Postagens mais visitadas