Para uma agricultura sólida, um rural desenvolvido com a presença do Estado

A implantação de influentes políticas e mecanismos de subsídios agrícolas pelos países europeus demonstrou ao longo da história como as relações econômicas internacionais podem não ser consideradas como positivas para os países em fase de desenvolvimento, como primavam clássicos da economia

Com relação aos clássicos da economia, tem-se em Adam Smith, um dos pais da economia. No seu clássico composto por cinco partes, conhecido como: “A riqueza das Nações”, e publicado primeiramente em 1776, o livre comércio e as trocas comerciais seriam fundamentais para o desenvolvimento econômico das nações. Em tom poético, Smith faz menção aos povos mais pobres e a importância que essas trocas comerciais teriam em fortalecê-los.

Diversos foram os teóricos e correntes que se voltaram para a economia política internacional e a preocupação com as trocas. Se por um lado havia uma perspectiva para a liberalização, havia diversas críticas. Como a relação entre países centrais e periféricos, tendo a teoria das trocas desiguais no Brasil, com um dos seus teóricos expoente, o ex-presidente da república, o professor e sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

Esse tema é muito amplo, só aqui fiz menção aos clássicos da economia e a corrente das trocas desiguais, havendo outras correntes e particularidades teóricas e foco aos setores da economia.
Portanto, pretende-se direcionar o que é relevante para os servidores públicos que trabalham com o espaço rural e a agricultura, ou seja, a importância das negociações políticas e os acordos, e mesmo possibilidades e canais para a comercialização. Afinal, em todas as rodadas de negociação internacionais e acordos laterais, realizados entre os países, a agricultura foi um assunto central.

Não sendo aleatória uma política subsídios, de investimentos na agricultura por partes dos países industriais e desenvolvidos, e da tentativa desses de se imporem sobre os países em desenvolvimento. 
O motivo é que a agricultura depende do apoio do estatal, e é fundamental para a soberania de uma nação, incontáveis são os motivos que exigem a presença de um Estado forte e atuante, investindo sobre os serviços de suporte ao rural.

Portanto, essa resenha terá por objetivo: a apresentação ao leitor dessa realidade na qual os Estados desenvolvidos procuram conservar esse importante setor da economia, fundamentando a necessidade de estar alerta às políticas internacionais e acordos, apresentando alguns casos na América e África, nos quais os fortes subsídios europeus impactaram negativamente produções agrícolas, como o leite e o arroz. 
Da mesma forma, que é possível pensar estratégias, com bons exemplos, inclusive no caso brasileiro, para a constituição de novas redes de comercialização.

Primeiramente, quero frisar que a questão não é desmerecer o comércio internacional. Há exemplos exitosos e relevantes, como a produção de tradables, ou seja, dos produtos comerciáveis e exportáveis, como é o caso do café. Mas, a entonação de como é possível sua realização de forma a fortalecer os setores da economia, e no nosso caso a agropecuária, isso é fundamental.
Ou seja, as condições no comércio internacional podem ser o fio condutor para uma proposta de desenvolvimento ou para um possível atraso. Eis um fator importante na mitigação das dependências.

Esse debate encontra-se no âmbito das políticas internacionais e das negociações diplomáticas, é essa a margem que faz a diferença nas negociações internacionais como as rodadas de Doha e do Uruguai. Indico para nossos colegas assistirem ao documentário denominado “La poderosa agricultura de Europa”, disponível na plataforma youtube, que demonstra como as relações econômicas internacionais podem gerar desigualdades e inibir o desenvolvimento em países em fase de desenvolvimento.

Basicamente é o relato do subsídio da produção agropecuária na Europa e as dificuldades criadas pelas importações desses produtos, no caso de países africanos e da República Dominicana. Gerando um cenário desastroso sobre comercialização do leite, do açúcar e do arroz, nesses países, levando os agricultores e a economia desses países a uma situação extrema. Intensificando uma condição de fome, subnutrição e morte.
Portanto, é fundamental que para além do livre comércio aja negociações justas, tendo por resultado uma política de comércio adequada. Outro aspecto que assusta, é que uma fonte de vida, como os alimentos, possam chegar a Wall Street como um índice em que se especula apenas papéis, nem mesmo estoques, que influenciarão os preços para o consumidor final, que até hoje vem pagando a conta, principalmente os países mais pobres. Foi por isso a crise de alimentos no meado da primeira década do século XXI.

Em especial para o caso brasileiro e o estado do Espírito Santo, quero ressaltar que a possibilidade do desenvolvimento de sistemas agroalimentares locais e as cadeias curtas parecem ser uma opção interessante. 
A política setorial agrícola deve ser dinâmica e estar atenta aos investimentos estatais, com apoio ao crédito, à pesquisa, à assistência técnica e à extensão rural para os agricultores que podem desenvolvê-la. Portanto, é necessário um Estado investidor, presente e eficiente na agricultura. 
Por fim, fica a preocupação para que haja maiores investimentos de organismos de apoio à agricultura. Termino deixando meus agradecimentos aos colegas que diariamente estão com os agricultores, em especial aos capixabas.

Autor: Samir Seródio Amim Rangel

Samir é agente de desenvolvimento em Extensão Rural do Incaper e ex-presidente da ASSIN. Atualmente é bolsista da FAPES, e realiza doutorado em políticas públicas no rural.


Aproveita o espaço para agradecer a ASSIN pela oportunidade no jornal, ao Incaper e à FAPES. Enfatiza o apoio e a orientação do professor Nilson Maciel Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas PPPP/UFPR, seu tema de pesquisa é o desenvolvimento de Paula, Doutor pela University College London/UK e professor sênior do PPPP/UFPR.

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