As duas tragédias e suas discussões

A imprensa dominante-tendenciosa faz com que surja um inusitado embate de ideias e opiniões nas redes sociais envolvendo as tragédias de Mariana e de Paris.
De um lado temos os internautas com senso crítico, que desde o dia 06 de novembro vem cobrando e até exigindo uma cobertura jornalística decente sobre a tragédia criminosa das barragens da Samarco (Lembrem-se, as barragens não são de “Mariana”!). 

Do outro lado temos os internautas que são manipulados por esses veículos, que adotam esses mesmos veículos-manipuladores como única fonte de informação dos fatos em debate, que em sua maioria estavam indiferentes com a tragédia ambiental e agora se solidarizam com as vítimas de Paris.

A imprensa e os governantes conduzem a tragédia ambiental que assassinou o Rio Doce com uma subserviência nefasta com as empresas criminosas, chegaram inclusive a tentar jogar a causa do rompimento das barragens devido a alguns abalos sísmicos ocorridos no dia 05/11, mas que ocorrem frequentemente em diversas regiões do País.

Como bem disse um promotor de Minas Gerais, “uma barragem dessas não rompe de uma hora para outra”, e sem dúvidas que a negligência e irresponsabilidade da empresa Samarco foi a única e exclusiva responsável pela maior tragédia ambiental de nossa história.

A situação beirou ao absurdo quando o governador de Minas Gerais concedeu uma coletiva nas dependências da sede da Samarco, mais absurdo ainda é observarmos que somente com autorização da empresa responsável pelo crime, é que se pode acessar o local do crime. 

Em um País sério, já havia pelo menos a prisão preventiva desses executivos que chegaram a garantir que a lama não seria tóxica.

Ainda tivemos explicitado o poder econômico que a Samarco e a Vale tem nos parlamentares mineiros, que propiciou o arquivamento do pedido de CPI para investigar os crimes ambientais de Mariana e na bacia do Rio Doce, verdadeiro sentido político que pode-se encontrar no financiamento corporativo de campanhas eleitorais ao passo que empresa não “doa”, INVESTE!

Temos diversos vídeos que registram a violência com que a “tsunami” de lama devastou uma comunidade inteira, arrastando tudo que encontrava pela frente, e acreditar que somente são seis mortos e dezenove desaparecidos, é desafiar com nossa capacidade de raciocínio.

Em Paris a tragédia também tem lá seus contornos políticos/econômicos, que de maneira inconsequente, faz com que as nações “aliadas” dos EUA participem das empreitadas bélicas no oriente médio e em países africanos em busca do controle de suas riquezas naturais.

O que faz aquecer o debate é a seletividade de todos se comoverem com Paris e ao mesmo tempo desprezarem por completo com o mesmo problema, e em escala muito maior que ocorre na Nigéria, o Boko Haram vem desde janeiro de 2015 massacrando etnias aos milhares e a imprensa internacional não dá a menor bola.

Da mesma maneira que nada se justifica um ataque terrorista como que ocorreu em Paris, também não justifica a França fornecer armamento para os rebeldes da Síria, que na verdade são igualmente terroristas que estão arruinando com uma Nação para tentar derrubar um governo, que diga-se de passagem, no Oriente Médio a Síria é o país mais avançado no que tange as políticas internacionais de direitos humanos, e é o que mais concede direitos as mulheres e mesmo sendo sua população predominantemente islâmica, a Síria se constitui como estado LAICO.

Já os principais aliados dos EUA-França-Inglaterra no Oriente Médio são as monarquias ditatoriais, as que mais violam direitos humanos e as que mais cerceiam os direitos das mulheres.

Partindo do princípio que essas três potências ocidentais fomentam uma milícia terrorista com dinheiro e pesado armamento para derrubar o governo da Síria somente pelo interesse do Petróleo e a localização estratégica, chegamos a conclusão que o terrorismo financiado pela França nos rebeldes sírios é tão repugnante como quem financia o EI, as mortes de inocentes pelos rebeldes-aliados na Síria são em número infinitamente maior que o do atentado de Paris.

Outro ponto que constantemente é abafado pela imprensa internacional, se encontra no próprio surgimento e fortalecimento do Estado Islâmico, que nasceu no Iraque pós invasão americana, cujo objetivo de George W. Bush ficou mais do que provado que era o petróleo.

A irresponsabilidade gananciosa de Bush filho levou a derrubar Sadam Houssein e deixar o País sem governo, e entregue a uma convulsão étnica que acabou por propiciar o território mais do que adequado para o EI se estabelecer e avançar para outras fronteiras, como na Síria por exemplo com o apoio dado aos rebeldes.

Como todos podem atestar, ambas as tragédias são relativamente iguais em seus contornos, com diferenças pontuais, mas de gravidade idênticas, e o problema é que a nossa imprensa nacional não oferece a mesma proporção para nossa tragédia ambiental para não “ofender” um de seus maiores anunciantes.


E para deixar a nossa imprensa ainda mais a vontade no abafa-lamaçal-das-parceiras-publicitárias, surge este ataque em Paris, para assim ocupar a pauta jornalística na íntegra, e deixar a devastação de Bento Rodrigues e a morte do Rio Doce completamente de lado.

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