Coronavírus: A Itália é o exemplo que não estamos seguindo, mas deveríamos
A história
está se repetindo exatamente como ocorreu no país mais devastado pela pandemia,
e lá não tem favelas
Bolsonaro
tenta se safar da Itália ao comparar dados demográficos de maneira superficial,
pela quantidade de habitantes por quilômetro quadrado, e como se todos os
brasileiros estivessem igualitariamente divididos entre cada bloco, sem
considerar que na cidade de São Paulo o índice de habitantes quase se iguala ao
da Itália...
...e que nas
favelas e periferias brasileiras de qualquer cidade e de qualquer tamanho a
média de habitantes por quilômetro quadrado supera o muito ao conferido no país
europeu, portanto, não há comparativo plausível nesse argumento do
presidente...
...e o pior,
ele se comporta exatamente igual aos governantes italianos, quando no final de
fevereiro decidiram relaxar nas medidas preventivas acreditando que a pandemia
não impactaria tanto, haja visto que naquela época os índices de contaminados
confirmados e mortes eram menores do que temos atualmente no Brasil.
As alegações
dos governantes e empresários italianos eram as mesmas que estão sendo usadas
hoje pelo presidente e pelos empresários que o seguem, mudando a estratégia
para “desarlarmar” a sociedade e com a preocupação de não minar o cenário
econômico...
...e o
resultado desta postura adotada no final de fevereiro está refletindo neste mês
de março na Itália, e para nossa apreensão, temos aqui no Brasil um cenário
muito pior do que o da Itália, o nível de disseminação do vírus aqui está muito
mais veloz do que lá, e isso fará com que nossa tragédia seja mais dramática.
O Blog do
Frederico reproduz reportagem veiculada no jornal espanhol “El País”, no dia 28
de fevereiro de 2020, para assim talvez podermos dar um pouco mais de
consciência da realidade aos que ainda insistem em seguir as desorientações
presidenciais:
Governo se empenha para garantir que
turistas não correm risco ao viajar ao país
Desde que foi registrado o primeiro
contágio pelo coronavírus em território italiano, há uma semana, os
acontecimentos se sucedem a um ritmo vertiginoso no país. As cifras oficiais no final da
noite de quinta-feira apontavam 650 contágios, 17 mortes e 45 pacientes
curados. O alarme social também se disparou neste tempo em
algumas áreas, dentro e fora do país, e os primeiros efeitos do medo não
tardaram a surgir. Agora, o Governo se empenha em neutralizar o impacto econômico da epidemia.
O vírus, concentrado em sua maioria
nas regiões da Lombardia e Vêneto, motores econômicos do país, no norte, abalou fortemente o turismo, com uma queda expressiva nas
reservas hoteleiras perto da época da Semana Santa, e castigou com dureza a
Bolsa de Milão, que não via números tão negativos desde o referendo do Brexit, em 2016. Nestes últimos dias, a
escassa coordenação inicial entre as instituições e inclusive alguns
enfrentamentos entre as regiões e o Governo central deixaram a impressão de
certo caos generalizado na gestão inicial da crise.
Prefeitos e governos regionais
baixaram uma série de regulamentos que foram depois corrigidos ou revogados por
ordem de Roma. Por exemplo, algumas regiões sem contagiados, como Marche,
decretaram o fechamento preventivo das escolas e proibiram aglomerações públicas. O primeiro-ministro
Giuseppe Conte ameaçou contestar a normativa, já que “contribuía para gerar o
caos”, e um tribunal acabou por suspendê-la. Na Lombardia, inicialmente os
bares foram proibidos de abrir à noite, uma medida que foi revogada dois dias
depois.
Diante desse panorama, o Governo
central apostou numa mudança radical de estratégia na gestão desta crise de
saúde pública, para tentar conter o alarmismo e preservar a maltratada economia
italiana. Sua grande cartada é lançar uma mensagem de calma, coordenada com a comunidade científica
dentro e fora do país.
Em um encontro com os correspondentes estrangeiros em Roma, o ministro de Relações Exteriores, Luigi di Maio, lamentou que alguns países, como Israel e Rússia, tenham recomendado seus cidadãos a não viajarem à Itália (outros, como a Espanha, desaconselharam apenas viagens ao norte) e garantiu que o país é um lugar seguro. “Nossos filhos vão à escola na maioria das nossas cidades, e os turistas e investidores podem vir com tranquilidade”, afirmou. E reconheceu que o surto de coronavírus está abalando o sistema produtivo italiano.
Em um encontro com os correspondentes estrangeiros em Roma, o ministro de Relações Exteriores, Luigi di Maio, lamentou que alguns países, como Israel e Rússia, tenham recomendado seus cidadãos a não viajarem à Itália (outros, como a Espanha, desaconselharam apenas viagens ao norte) e garantiu que o país é um lugar seguro. “Nossos filhos vão à escola na maioria das nossas cidades, e os turistas e investidores podem vir com tranquilidade”, afirmou. E reconheceu que o surto de coronavírus está abalando o sistema produtivo italiano.
Também apresentou um mapa, elaborado
pela unidade de crise do Executivo, “contra alarmismos e informações
imprecisas”, no qual se mostra que apenas 0,1% das localidades italianas (em
0,05% da extensão territorial) está submetido a quarentena rigorosa —10 cidades e aldeias na Lombardia
e uma no Vêneto—, e que é possível circular com normalidade no resto. Também
esclarecem que as pessoas em isolamento, cerca de 50.000, representam 0,089% da
população total.
O ministro da Saúde, Roberto
Speranza, e Giuseppe Ippolito, diretor do hospital Spallanzani de Roma, o
centro de referência para enfermidades infecciosas, salientaram na mesma
entrevista coletiva os números de pessoas que se curaram da doença no país, 45
no total. E anunciaram que a Itália, a partir de agora, só submeterá a exames específicos da Covid-19 as pessoas que apresentaram sintomas de infecção pelo coronavírus.
Até agora, segundo dados da Defesa
Civil, foram feitos mais de 11.000 exames, dos quais só 5% deram positivo. “Não
podemos ser culpados de termos sido um dos países que mais fizeram controles”,
disse Di Maio, acrescentando que nos próximos dias enviarão diariamente aos
demais países, através das embaixadas, todos os dados relacionados com os
contágios. “A Itália não é o foco de contágio, o vírus está circulando em todo o mundo”, observou Walter Ricciardi,
membro da Organização Mundial da Saúde e assessor do ministro da
Saúde.
Speranza confirmou que, por enquanto,
existem apenas dois epicentros onde os contágios se originaram: o maior, na
Lombardia, e outro no Vêneto, e que os médicos estão estudando a possibilidade
de que as transmissões tenham partido de um só lugar.
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