Economia bom-jesuense tem lastro para se manter no isolamento social, diferente do que se especula nas redes

O histerismo-bolsonário com a economia ultrapassa a linha do inimaginável, beirando ao inconsequente na formação de opinião



Discutir ou emitir opiniões sobre os impactos econômicos que já estão sendo causados pelo coronavírus, e o que está para acontecer no desenrolar da pandemia, requer primeiramente responsabilidade com a verdade dos fatos, não basta tão somente exercer o direito a livre expressão do pensamento na base do achismo...

...é preciso o mínimo de embasamento de informações concretas sobre o que se torne público como opinião, e quando se discute a possibilidade de relaxamento das medidas restritivas quanto ao afastamento social na defesa da economia e dos empregos, requer sobretudo que se opine lastreado por DADOS ESTATÍSTICOS OFICIAIS...

...para não formar uma opinião distorcida com a realidade dos fatos, e principalmente, não criar alarmismos econômicos assim como não se deve criar alarmismos sanitários no enfrentamento ao vírus, portanto, passo a seguir a contraditar uma postagem de um estimado amigo em sua rede social, sem a necessidade de revelar sua identidade...

...mas preocupado com a repercussão gerada em sua manifestação, que diga-se de passagem, extremamente alarmista e sem nenhum embasamento factual para gerar todo clamor que ele reporta, ao prever que teremos VINTE MIL DESEMPREGADOS quando chegarmos ao décimo caso de COVID-19 confirmado em Bom Jesus do Itabapoana.

O último senso demográfico realizado pelo IBGE apontava em 2010 Bom Jesus do Itabapoana com 35.411 habitantes, e hoje a população estimada pelo órgão é de 37.096, e dentre todos os dados oficiais contidos na página de BJI no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, contém um campo exclusivo sobre trabalho e renda com dados atualizados...

...como por exemplo as informações sobre as camadas economicamente ativa com 16.637 pessoas, e a economicamente NÃO ativa com 14.292, e somente nesses números apresentados desmontam de maneira inapelável a postagem do amigo que quer relaxar as medidas restritivas...

...salientando ainda que, é considerado como “economicamente ativo” o cidadão que tenha mais de dez anos, que seja estudante em busca da primeira oportunidade de trabalho, ou desempregado a procura de novo emprego...

...e o número de pessoas que estão ocupadas em atividades dentro da formalidade é de 6.552 cidadãs e cidadãos, com aproximadamente 3.000 desempregados que já haviam desde 2019, os demais do grupo de pessoas economicamente ativas em BJI estão ou estavam trabalhando na informalidade.

Das 14.292 pessoas enquadradas como economicamente NÃO ativas, aproximadamente 8.000 são aposentados e pensionistas, outros 6.000 são crianças abaixo dos dez anos, e a minoria restante são os que desistiram de procurar emprego depois de trinta dias desocupado, ou que não se interessou sequer pelo primeiro emprego...

...nos dando a luz necessária para compreendermos o real perfil econômico para mensurarmos qual será a dimensão do impacto em nosso mercado interno, quando observamos alguns aspectos podemos chegar a conclusão que cidades como Bom Jesus do Itabapoana tendem a sofrer impactos menores que os grandes centros que precisam majoritariamente de arrecadação própria...

...diferente de nosso caso onde 87% de nossa receita orçamentária da prefeitura é oriunda da União, e em parcela bem menor o governo do estado, assim como nossa força de consumo está lastreada por empregados do setor público, aposentados e pensionistas majoritariamente...

...se calcularmos que dos 6.552 trabalhadores que estão inseridos na empregabilidade formal, temos somente no setor público, direta e indiretamente contratados tanto pela prefeitura como pelo governo do estado, algo em torno de três mil profissionais, seja os servidores de carreira ou os terceirizados que mantiveram suas atividades mesmo depois da pandemia.

No setor privado bom-jesuense, os maiores empregadores mantiveram suas atividades dentro da normalidade, salvo as restrições sanitárias, os mercados da rede Lico King, Fluminense e Rezende Portugal estão praticamente com movimento dentro do que era antes da crise, assim como o setor industrial com a Xamêgo Bom, Maionese D’casa e a Bomplastic, e o setor de serviços com a Erfolg...

...com esses grupos se juntando as drogarias, padarias, mini-mercados, e mercearias, postos de combustíveis e distribuidoras de água mineral e gás de cozinha, podemos avaliar com firmeza que nossa economia será impactada sim...

...mas uma galáxia distante de termos VINTE MIL DESEMPREGADOS, os setores diretamente impactados são os que geram menos empregos, como academias, estabelecimentos de estética, lojas de roupas e calçados, e o setor de promoção de festas privadas e demais atividades consideradas supérfluas, podendo gerar aí no máximo mil e quinhentos desempregados...

...o que em hipótese alguma seria o apocalipse econômico de nossa terra, até porque desses que perderão seus empregos, a maioria absoluta será reconduzida no mercado de trabalho em novas oportunidades e atividades que surgirão no pós-pandemia, pois as pessoas se reinventarão e se adaptarão aos novos tempos que estão por vir.

Outro importante setor de nossa economia que também não foi restringido com as medidas de enfrentamento ao coronavírus, é o setor pecuarista e agrícola que estão atuando praticamente dentro da normalidade, exceto os feirantes que ainda não tiveram uma solução para retomarem suas atividades...

...mas dentro do contexto geral, os setores pecuaristas leiteiro e de gado de corte estão com suas atividades praticamente inalteradas, salvo os impactos que já vinha sofrendo devido a profunda crise econômica que o país vive desde 2015, as medidas restritivas não impactaram e nem impactarão, assim como temos grandes produtores de hortaliças que estão trabalhando dentro da normalidade....

...e estamos falando de um campo produtivo que gera mais de mil empregos diretos e indiretos, formais e informais, e que a tendência é a manutenção dessas vagas ocupadas, e com a possibilidade até de aumentar o número, caso o poder público crie um ambiente de crescimento agrário como forma de mitigar os impactos da crise em nossa economia interna.


Para os que consideram que o prefeito Roberto Salim deveria rever o decreto vigente de forma a flexibilizar o funcionamento dos estabelecimentos totalmente restringidos, lhes informo que é o contrário, o chefe do executivo deveria sim rever as medidas, mas de forma de ampliar as restrições e não relaxar...

...como podemos mensurar que algo em torno de 70% das atividades e estabelecimentos comerciais e de serviços estão funcionando praticamente dentro da normalidade em BJI, exceto os considerados não essenciais, como bares, restaurantes e lanchonetes, que mesmo com a permissão de atender a 30% da capacidade física, o movimento não representa 10% do que poderia ser...

...um flagrante indicador que a própria população está ciente da necessidade de manter o afastamento social por muito mais tempo, e essas pessoas sofrerão profundas mudanças na forma de pensar a agir enquanto consumidores, como já dito aqui neste blog antes, setores considerados supérfluos serão os mais impactados...

...pois mesmo que daqui a trinta dias tivéssemos uma diminuição considerável da disseminação do vírus, as medidas a serem relaxadas não chegariam nos grandes eventos, públicos ou privados, que geram grandes aglomerações, as pessoas tenderão a serem mais caseiras e conscientes como consumidoras.

Como já havia abordado em recente matéria a respeito, o setor mais impactado no momento é o do entretenimento do calendário festivo oficial, deixando sem renda aproximadamente cinquenta barraqueiros e ambulantes e algo em torno de vinte artistas que somente contam com as contratações para as festas dos distritos e da sede como fonte de renda...

...mas que podem ser amparados também pelo poder executivo municipal com os recursos financeiros não investidos nos eventos cancelados, pois é líquido e certo que toda agenda cultural bom-jesuense será cancelada neste 2020, incluindo a Festa de Agosto e o Festival de Chorinho e Sanfona de Rosal, que são os eventos que mais trazem turistas e dinheiro de fora para nossa economia...

...com esses profissionais já sendo amparados pelo governo federal através da destinação dos R$ 600,00, o prefeito Roberto Salim pode tranquilamente utilizar grande parte dos R$ 1.500.000,00 previstos para serem aplicados na secretaria de cultura, turismo e urbanismo, como um programa temporário de renda mínima.


Finalizando, o mundo capitalista vive períodos cíclicos na economia, com momentos de profundas crises globais, como na grande depressão de 1929 e no pós-segunda guerra mundial, empresas que antes eram superpotências hoje não existem mais...

...podendo aqui relembrar um discurso do ex-senador Roberto Requião, que exemplificou as mudanças no cenário da economia global, citando duas gigantes até os anos oitenta e um pouco no início dos anos noventa, as empresas do ramo fotográficos Kodak e Fuji, que eram as maiores fabricantes de câmeras e filme de revelação fotográfica...

...e que ambas as empresas desapareceram há aproximadamente vinte anos, e se alguém perguntasse nos idos dos anos oitenta sobre a possibilidade de em vinte anos essas empresas falirem, qualquer um diria que estava ficando louco, mas a realidade do mundo digital engoliu com essas duas gigantes, assim como outras grandes corporações que dominavam o mundo e hoje inexistem.

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