Tenente-brigadeiro Sergio Xavier Ferolla, uma contundente voz bom-jesuense contra Bolsonaro
Ex-presidente do Superior Tribunal Militar, têm escrito uma das mais honrosas páginas da história contemporânea
Junto com o
general Santos Cruz, Sergio Ferolla tem sido um dos mais contundentes críticos
do abuso do presidente nas relações com as Forças Armadas, seus artigos têm se
destacado nos grandes veículos da imprensa nacional, e cada vez mais duro ao se
dirigir a postura sociopata do chefe do executivo federal.
Abaixo temos
dois artigos primorosos do Tenente-brigadeiro bom-jesuense que já ocupou o
posto mais alto do Superior Tribunal Militar, um de março e outro de junho de
2021.
31 Março:
Escrito por Sergio Xavier Ferolla
Trágicos
acontecimentos se acentuam, enquanto o Presidente externa sentimentos insanos
Desestabilizado
por embates agressivos na ante sala do maligno, onde seus frequentadores
priorizam vantajosas pretensões, nosso país vai sendo conduzido ao temível
reino das trevas e registrando perdas de milhares de vítimas da amaldiçoada
pandemia. Estimulando tanta desarmonia nos Três Poderes da República, o governo
tornou o Brasil um pária internacional, além de destacada ameaça política e
sanitária no contexto das nações. Retratado pelas colocações quixotescas de um
psicótico Presidente, é comparado ao cenário criado por Miguel de Cervantes, no
qual um pretenso cavaleiro pensava poder salvar sua pátria brandindo armas
primitivas, em plena modernidade.
Para enlamear a comparação, enquanto o impetuoso personagem agia de forma
estapafúrdia por reconhecida debilidade mental, nosso Dom Quixote caipira não
passa de premeditado ator de picadeiro, a provocar contestações radicais num
circo mambembe na esplanada dos Ministérios. De forma insana, para a satisfação
de asseclas e seguidores de suas ações idiotas e demagógicas, manifesta-se e
gesticula como o personagem criado pelo escritor espanhol. Mas não é justo
desmerecer o histórico Dom Quixote, símbolo de "um personagem que, cem
anos antes, teria sido um herói nas crônicas ou romances de cavalaria".
Sabiamente colocado em ação um século após, sua loucura visava refletir o
anacronismo de uma época e seu criador se valeu da imagem para satirizar os
novos tempos, "retratando uma Espanha que, após um século de glórias,
começava a duvidar de si mesma".
Como válido ensinamento para nossos dias, merece ser salientado o episódio em
que Dom Quixote, "ao vislumbrar cerca de trinta moinhos de vento, os
confunde com gigantes e decide enfrentá-los sozinho". Sancho, seu
escudeiro, ainda tenta alertá-lo da ilusão, "mas Quixote insiste e
partindo para o ataque a um dos moinhos, acaba derrubado por uma das pás,
juntamente com seu cavalo". Ao socorrer o mestre, Sancho Pança o questiona
sobre como pôde cometer tamanho engano? "Quixote responde, insistindo na
ilusão de que aquilo era obra de um mago, que transformara gigantes em moinhos
para impedir sua glória".
Tal cena deu origem à expressão "lutar contra moinhos de vento", no
sentido de atacar inimigos imaginários ou realizar esforços em vão. Na
tragicomédia brasileira, a "imaginária batalha contra moinhos de
vento" reflete o descompasso entre um fanfarrão populista, que busca
arregimentar
seguidores e a realidade sobre a qual se exibe como exemplar renovador. Como na
criação de Cervantes, nosso insano combatente também se encontra acompanhado
por diversos Sancho, submissos e fiéis escudeiros. Esses senhores, que no
passado realizaram boas ações, acabaram por merecer a classificação do
escritor, de "dotados de pouco sal na moleirinha" devido aos
comportamentos do momento.
Trágicos acontecimentos se acentuam a cada dia, enquanto da privilegiada
posição em Brasília, o Presidente externa sentimentos insanos, ao imaginar
teatros de terra arrasada e vislumbrar inimigos por toda parte. Repudiando a
manifesta rejeição ideológica, ambiental e geopolítica internacional, no
ambiente doméstico vê ameaças de opositores dispostos a solapar suas ambições
eleitoreiras. Não tendo logrado iludir populações da Amazônia e nordestinos,
muitas vezes tratados com menosprezo, os considera infiéis associados a
defensores do meio ambiente e da hileia que planeja devastar. Nos estados mais
populosos e com significativo peso político, sua insanidade cria a visão de
governadores liderando combatentes com vestes brancas, portando máscaras e
agulhas apontadas tipo baionetas, para impor a vacinação obrigatória da
população.
Transtornado pela oposição de inimigos do negacionismo ideológico e da gloriosa
vitória sobre uma desprezível "gripezinha", não atenta para o colapso
do Sistema de Saúde, as filas de doentes graves aguardando leitos hospitalares
e o sepultamento de milhares de inocentes. Numa manobra derradeira para tentar
mascarar seu comportamento execrável, indica um médico vinculado às raízes
políticas, tão logo retorna ao país, muda e cabisbaixa, a trupe de medíocres
que, em Israel, buscava milagroso "spray nasal" capaz de realizar o
milagre não alcançado pelas panacéias das "fake news". Para aplicação
nasal, talvez tenham ouvido falar em algo capaz de minorar o odor de cadáveres
e do pantanal político em que convivem.
Por essas e outras, a pesarosa situação sanitária se estenderá por mais tempo,
já que o problema não está no Ministro da Saúde e sim no Presidente da
República. Mas a continuidade de tantos desacertos ficou abalada, ao sentirem
os apoiadores das pretensões continuístas o surgimento de um "anti-mito
Lula" no palanque circense, devido às vaidades na Suprema Corte.
Pelas repercussões no mundo político, analistas levantaram hipóteses de
fundamentado embasamento jurídico, ou jurisprudência de deuses do Olimpo. Como
caberá ao futuro mostrar a verdade, também lhes pareceu justo supor que a
ousada decisão do Relator da Lava Jato, originada entre homens responsáveis,
teria objetivado neutralizar considerações capazes de arruinar todos os
Processos de Curitiba. Dessa forma, um novo Magistrado trabalhará para dirimir
possíveis pendências processuais, levando os que prezam a ética a aguardar
isenta apreciação pelo Poder Judiciário.
Com a inesperada novidade estremecendo a tenda circense, súbitas e antagônicas
mudanças de comportamento surgiram entre os atores da ópera bufa brasileira. De
imediato, cultivadores do negacionismo e supremacismo radical apareceram em
cena usando máscaras e falando dos milagres da vacinação coletiva. Em
contraposição, seguidores do "lulopetismo sindical" passaram a sonhar
com a aglutinação das mini siglas, normalmente desunidas pelos interesses
políticos e corporativos.
Em tal ambiente de jogadas escusas e falsas vocações patrióticas, o purgatório
transformou-se numa verdadeira sala de espelhos, onde os atores centrais, a
cada movimento, como zumbis no mundo das sombras, veem suas feições refletidas
sob múltiplas e interesseiras facetas. Nesse emaranhado de interesses, como os
extremos à esquerda e à direita se mesclam na hipocrisia da política, o
imprevisível futuro deixa os volúveis do centro indecisos sobre como atender
suas pretensões pessoais e partidárias. Suas opções exercerão considerável
influência nas eleições de 2022 e na própria vida dos políticos, além de
solapar os acordos que, no momento, asseguram tênue suporte parlamentar ao
Presidente.
Mas por algum tempo, se algo mais grave não ocorrer, nosso país conviverá com
lamentos pela perda de milhares de vidas, desempregados e enfermos carentes de
dinheiro e limitada assistência hospitalar. Por isso, atenção especial
precisará estar voltada para os agentes de saúde, verdadeiros heróis em defesa
da vida, cada dia mais exaustos pela luta diuturna em enfermarias e nas
Unidades de Tratamento Intensivo. Além da falta dos produtos de consumo
rotineiro e equipamentos de proteção individual, são testemunhas do drama dos
mais graves, já só alguns merecerão a esperança de sobreviver.
Apesar desse quadro dramático, num país que não merece o arrogante e desumano
comportamento dos detentores de poder, públicas contestações no ambiente
político farão brotar opções para o porvir. Daí a necessidade de críticos e
construtivos debates sobre a realidade nacional para, na busca das
alternativas, trazer das sombras para a luz da vida e da fraternidade, aqueles
que valorizem nobres sentimentos e sadio interesse pela agregação dos esforços
capazes de abreviar o sofrimento da população brasileira.
Tenente
Brigadeiro Sergio Xavier Ferolla
Ministro Ap. do Superior Tribunal Militar
por
Sergio Xavier Ferolla
Com a
população vivenciando um dramático período de incertezas políticas e
econômicas, agravado pelo desemprego em massa e a cifra assustadora dos meio
milhão de óbitos causados pela pandemia, persiste a desatenção governamental e
a passividade dos congressistas. Nessa trágica conjuntura, com total desprezo
pelos humanos sentimentos de perda e solidariedade, seguidores radicais se
agrupam numa corrente satânica e ideológica, insuflada por agentes da desunião
e do ódio, para enaltecer as irresponsáveis ações do Presidente da República.
Como
verdadeira associação criminosa e tendo por estratégia degradar o sentimento
coletivo, suas lideranças se valem de cortejos satânicos para promover a
desagregação nas classes sociais e no ambiente familiar. Valendo-se do despreparo
de uma turba com mentes vazias, cujos horizontes se limitam às futilidades
novelescas e à admiração por figuras que externam símbolos da luxuria, promovem
carreatas ruidosas e desfiles de motocicletas vistosas. Nesse midiático
artifício para tentar demonstrar apoio popular, tumultuam as vias públicas, em
flagrante desrespeito às leis de trânsito e às determinações de distanciamento
social.
Essa
sequência de eventos, orquestrados por profissionais do submundo da política,
não só representam verdadeiro deboche, como ofendem famílias enlutadas pela
perda dos entes queridos vitimados pela deficiente condução do setor de saúde
pública. Para decepção dos cidadãos de bem, uma galera amestrada e insensível à
realidade de pobreza e ao degradante desnível social, demonstra verdadeiro
“complexo de vira latas”, ao se deleitarem com manifestações dos mais
abastados. Mobilizados pela subversão nas redes sociais, o grupelho acaba
ignorando alertas e recomendações dos exaustos profissionais da saúde,
engajados no atendimento aos trabalhadores e residentes da periferia, onde
inexiste assistência e saudável alimentação.
Nesse
caminhar para o desastre social e institucional, aos arroubos do líder maior,
como num retrospecto dos tempos em que sua carreira militar foi interrompida
por transgressões disciplinares, também se somam artimanhas maliciosas para
solapar a instituição que o repudiou. Nos seus costumeiros delírios psicóticos,
citando como “meu exército” o honrado Exército de Caxias, tenta ludibriar civis
e militares sobre irreal apoio na caserna. Para configurar tamanha falsidade,
logrou envolver alguns contemporâneos da Academia Militar, convocando-os para
postos na burocracia palaciana. Por desprezar suas ponderadas orientações e
oportunos aconselhamentos, acabou os comprometendo em ações que macularam seus
reconhecidos méritos profissionais. Mais decepcionante foi se posicionarem
coniventes com um aventureiro insaciável e testemunharem, impassíveis, suas
manobras contra as Instituições democráticas, na ânsia por poder totalitário.
Persistindo
na trilha desastrosa em direção ao abismo, o cacique palaciano repete atos
inaceitáveis, como os do tempo de oficial combatente, ao afrontar os Regimentos
militares e os rígidos alicerces da Hierarquia e da Disciplina. Valendo-se de
um submisso e inexpressivo General de Divisão, ainda na atividade militar,
postou-o no cargo de Ministro da Saúde, para a missão de assegurar que suas
determinações fossem obedecidas nos serviços de saúde pública. Com tal manobra
simulava uma posição oficial para se contrapor às orientações de cientistas e
da própria Organização Mundial da Saúde. As consequências, de conhecimento da
sociedade, acabaram na demissão do caricato Ministro e numa Comissão
Parlamentar de Inquérito que busca responsáveis por possíveis crimes contra a
vida.
Tais
desacertos eclodiram em meados de junho, quando numa aglomeração em Copacabana,
onde um carro de som enaltecia o maligno “capetão” (espero que o diabo não se
sinta ofendido), nela se incorporou o indigno marionete. Como militar da Ativa,
tal ato que infligia a disciplina militar de forma injustificável, motivou
amplo destaque na mídia doméstica e internacional. Por participar num planejado
evento midiático, à flagrante transgressão se impunha exemplar punição, demonstrando
não ser tolerada intromissão política no ambiente castrense pois, “se permitida
sua entrada nos quartéis, a hierarquia e a disciplina sairão pela porta dos
fundos”.
Mas o
Comandante do Exército, para surpresa geral, não resistindo às pressões do palácio
e dos conselheiros de alta patente, acatou as desculpas que permanecerão em
sigilo por longo período. No entanto, aquele péssimo exemplo logo se proliferou
pois, no dia seguinte, um Sargento classificado em Goiás, já participava da
“live” de um Deputado, tratado como “major”, para apresentar baboseiras e
solicitações salariais. Se punido ou não, a questão restará pendente, bem como
outras que poderão surgir.
Frente a
tantos fatos lamentáveis, tornou-se dever, perante os mais jovens, manifestar
preocupação com a evolução das impunes violações e das muitas manifestações de
desapreço para com a ordem democrática. Ao relembrar fatos relevantes do
passado, os mesmos poderão servir de alerta e aprendizado, como ocorreu na
“intentona comunista” de 1935. Deflagrada por seguidores de Carlos Prestes,
numa madrugada e traiçoeiramente, Oficiais e sargentos foram assassinados por
colegas. O Comandante da Unidade do Campo dos Afonsos, Major Eduardo Gomes,
logrou sufocar a subversão, também identificada no Nordeste. A esquerda
defendeu o levante por longo período, sob falsos e levianos direitos de
opinião, que culminaram no governo Dilma, com a proibição de homenagens às
vítimas do massacre.
Esses
fatos inaceitáveis precisam constar nas precauções dos Chefes Militares, especialmente
em relação aos dias tormentosos que poderão anteceder às eleições majoritárias
de 2022. Tal preocupação se avulta, pela existência de radicais no falado
“gabinete do ódio” que se homizia nas hostes palacianas. Agindo nos quartéis e
nas Polícias, em especial, tão ameaçadora conjuntura nos leva a considerar
ensinamentos contidos na obra do filósofo espanhol Ortega y Gasset, que no
livro “Rebelião das Massas”, do ano de 1922, analisa o período da ascensão
nazista e fascista na Europa. Seus alertas se tornam mais oportunos, ao
destacar o impacto causado pelos meios de comunicação na sociedade e ao
enfatizar que: “o passado não nos dirá o que devemos fazer e sim o que
deveríamos evitar”.
Pelas
semelhanças com o cenário brasileiro, onde fermenta uma atmosfera extremista de
direita e forte presença nas fake news”, consideramos viável ser considerada a
possibilidade para algo tipo intentona, visando transtornar o pleito eleitoral,
se surgirem possíveis resultados adversos aos inimigos da democracia. Frente
tal hipótese, que ouso apresentar com ponderada convicção, cresce a importância
dos bons ensinamentos nas tropas e a supervisão do MP militar junto aos
Comandantes, enaltecendo o respeito à Hierarquia e à Disciplina. Também será
essencial realçar que delitos mais graves podem resultar em Processo na Justiça
Militar, onde personagens com citações delituosas constam nos registros
históricos.
Como
manifestação derradeira, devido os acontecimentos que se repetem em nosso país,
tornou-se dever e modesta cooperação alertar, do Soldado mais humilde ao
General mais graduado, para o profundo significado da mensagem deixada pelo Dr.
Aldo Fagundes, ex-Deputado Constitucionalista e Ministro do STM, recém
falecido, de que, “a farda é leve para quem a veste por vocação, mas é fardo
insuportável para aquele que não compreendeu a missão para a qual prestou
Juramento solene”.
Tenente
Brigadeiro do Ar Sergio Xavier Ferolla Ministro Ap do Superior Tribunal Militar
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