O Forno Colonial de Santa Isabel, alguns esclarecimentos pertinentes

Não há hipótese alguma, de ter sido algum "desbravador" que tenha construído o achado arqueológico

Foi veiculado na semana passada nos blogs do jornal O Norte Fluminense e do Jailton da Penha, a notícia sobre um terceiro achado arqueológico encontrado próximo a Usina Santa Isabel e do rio Itabapoana, sendo tratado como uma descoberta ocorrida dias antes da reportagem, neste final de 2021, e ainda conjectura-se a possibilidade do achado ser um forno construído por algum desbravador que tenha chegado por aqui por volta da década de 30 do século XIX.

O esclarecimento a ser publicado se dá na data da descoberta do achado, que foi omitida nas duas reportagens, sendo este fato ocorrido entre março e abril de 2020, um pouco antes ou logo no início da pandemia, e eu tive acesso as informações e ao vídeo que torno público acima, no início de 2021, ficando assim a indagação se o poder público já fez contato com o proprietário da área para tomar as devidas providências de preservação deste patrimônio histórico, haja visto que eu mesmo encaminhei o vídeo ao coordenador de cultura José Geraldo Moraes, para que ele acionasse o conselho municipal de preservação do patrimônio histórico.

Esta construção encontrada em Santa Isabel se assemelha muito com a que foi encontrada em Calheiros nos anos noventa, e a segundo a linguagem da arqueologia, trata-se de "FORNOS COLONIAIS", podendo ser construídos por indígenas ou por escravos, pois ambos os povos utilizam de técnicas semelhantes na construção de fornos ou fornalhas, bem como ambos utilizavam essas estruturas para fabricação de artefatos de cerâmica.

Quando esteve em Bom Jesus do Itabapoana em 2017, ocasião em que foi encontrado o segundo forno colonial de Calheiros, este no Santuário de Aparecidinha, o arqueólogo Cláudio Prado, então presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Arqueológico do Rio de Janeiro, esteve no local, recolheu algumas peças que estavam entranhadas no solo ao redor do forno, e realizou uma palestra no Espaço Cultural Luciano Bastos, e ali ele considerou a hipótese deste segundo achado ser um forno indígena, descartando inicialmente a hipótese deste ter sido construído por escravos.

Importante também se atentar que, nenhum dos primeiros desbravadores que chegaram em nossa região se instalaram rente ao rio Itabapoana, tanto que não há nenhuma sede histórica do século XIX localizada próxima ao rio, vindo somente a ser ocupado em suas proximidades a partir do início do século XX, portanto, fica evidente que tais achados arqueológicos são de origem indígena ou de africanos escravizados.

Em tempo: Quem assistiu o documentário "I - TABA - POANA", teve conhecimento deste terceiro achado arqueológico em maio deste ano, no capítulo que trata dos vestígios da ocupação indígena nas margens do rio.

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